ENTREVISTA | Sarchel Necésio
“Sim! Revolucionei o mercado digital angolano”
A poucos dias da comemoração do seu trigésimo terceiro Aniversário, Sarchel Necésio falou para On Time sobre aquilo que tem sido o seu percurso, no maior portal de entretenimento de Angola, Platinaline. Das dificuldades, pouco falamos, afinal “são parte integrante do processo de empreendedorismo. Mas, de uma coisa tenho a certeza, um dia terei de me afastar”, vaticina.
On Time: Quem é o Sarchel Necésio?
Um jovem angolano, do Kwanza Norte, de 33 anos de idade, idade de cristo. Primeiro filho, casado, Com a Dona Neusa. Mas, sou um jovem bastante ambicioso. Acredito muito nas capacidades e no humanismo das pessoas. Sonhador e, dizem que sou bastante sensível, confesso que começo acreditar que é verdade (Risos), e um pouco tímido.
On Time: Quando se fala de 2007 /2008, que lembranças lhe vêm à mente?
São anos de muitas boas lembranças. Ano em que dei início o ensino superior na Universidade Independente de Angola. Neste mesmo ano, tive a oportunidade de conhecer uma jovem, que hoje, também é empreendedora, Carolina Barros. Nesse mesmo ano, eu já estava a desenvolver o meu lado empreendedor, comercializava livros para ela e para alguns dos meus colegas. O facto de saber que ela era Jornalista, despertou-me a curiosidade para tentar perceber mais este mundo da comunicação. Uma fase bonita e de muito aprendizado.
On Time: Mas, nesse período já almejava sair de Angola. Houve alguma razão especial?
Saí de Angola em Julho de 2008. Não porque estava nos meus planos, mas foi uma surpresa proporcionada pela minha mãe. Naquela época, havia um primo meu que estava no Brasil a estudar e referenciou uma excelente Universidade, em Criciúma, calmo e aconchegante. Os jovens que para lá se deslocavam, não se desviavam, e era possível estudar com excelentes aproveitamentos. Para mim, foi igualmente uma oportunidade e caminho fácil para implantar um projecto que tinha em carteira, uma revista física. Mas os custos eram muito elevados
On Time: Quando se refere Criciúma, que lembranças lhe vêm à alma?
Tenho muita consideração pelo meu país. Amo Angola, amo a minha terra mas, a minha fase adulta, a minha transformação e maturidade começa naquela cidade. Foi nela onde conheci a mulher com quem me casei, onde comecei a Platinaline, onde me formei, enfim, tudo que constitui a minha transformação para a idade adulta, aconteceu em Criciúma. Foi ai onde tudo começou.
On Time: Quer partilhar estes momentos, fases da criação do Platinaline?
Recebia uma mesada dos meus pais, e parte dela foram canalizadas no pagamento da equipa Brasileira que programou o site, mediante o esboço que criei, obviamente. A minha prima Charlene e a minha namorada estavam sempre ai ajudar. Dividia-me entre a escola e o trabalho, que para muitos, era apenas uma “maluquice”. Lembro-me de uma situação chata em que troquei palavras com alguém. Estavam todos à mesa e eu no computador. Uma discussão bastante feia, mas saí de lá com o pensamento de que “um dia reconheceriam a minha dedicação”.
On Time: Ao contrário daquilo que se pensa, normalmente, a família é sempre a última a nos perceber, quando decidimos enveredar para o empreendedorismo. Também aconteceu consigo?
A minha mãe achava logo que estava a perder tempo. Achava que não estava a estudar. Lembro-me de uma história bastante engraçada, de que hoje nos rimos, mas na altura incomodou bastante: Faltavam dois meses para a formatura. Ela pediu ao meu padrasto para se confirmar se eu iria formar-me no dia seguinte. Quando cheguei ao Brasil, os primeiros seis meses foram de muita dedicação e pontualidade, depois chegava sempre atrasado, menos dedicado. Claro que, nunca pensei em desistir, sempre determinado em terminar a faculdade em quatro anos. Sou formado em Administração de empresas. Mas, a comunicação sempre foi a minha paixão. No último ano escolhi como tema da minha defesa o Projecto da Platinaline. Ninguém conhecia melhor do que eu. Tudo quanto os professores perguntaram, estava ao meu alcance.
On Time: O que é ser jovem para si?
É ser sonhador. Batalhador. Alguém insatisfeito com a sua condição, económica e social. É, acima de tudo, saber que possuímos uma enorme força para mudar o meio à nossa volta (país, sociedade, comunidade).
On Time: Foi isso que fizeste?
Sim!! (sem pestanejar). E digo mais, está tudo relacionado com a minha astrologia e personalidade. Somos caracterizadas como pessoas que não cruzam os braços, estamos sempre a fazer alguma coisa grandiosa, por menor que seja. Aos 33 anos fiz alguma coisa que mudou, revolucionou e influenciou na forma de trabalhar de algumas plataformas digitais.
Sem medo de errar, tenho a plena certeza que influenciei na forma de trabalhar do meu próprio parceiro que é o SapoAngola. Aliás, eles são frutos da Platina porque quando comecei, foram às primeiras pessoas que descobriram que afinal no nosso portal dava para “brincar”. Foram eles que levaram o público para a minha página, tenho muito agradecer, essencialmente ao Edmilton Scuma. Graças a este dinamismo que tiveram, que alguém olhou para eles, acreditou no talento e capacidades. Hoje, sinto-me bastante orgulhoso pelos cargos que ocupam. Contribuí bastante. A classe artística nacional também deve muito a Platinaline, pois passamos de um site de notícias de entretenimento a agregador de conteúdos sobre eles e servimos de fonte de informação para as estações televisivas nacionais e estrangeiras.
On Time: Revolucionou o mercado digital nacional?
Se disser que não, estaria a ser hipócrita. Não sou de esperar que me digam que sou bonito, quando me dizerem que sou feio vou reclamar. Sim, revolucionamos o mercado digital nacional, na área cultural e do entretenimento. Tudo quanto veio depois, bebeu muito da Platinaline.
On Time: Mas, antes de lançar o seu portal, já haviam alguns neste segmento.
Existiam alguns, SapoAngola, Angonoticias, Club K e o Mwangole.net. Mas, no formato que criei, não existia. E o “bum” das redes sociais, dá-se, exactamente, nesta mesma altura em que lancei a Platina. O Facebook permitiu esse rápido crescimento da minha plataforma. Cresci junto da comunidade de angolanos no Brasil, onde o acesso a internet era mais facilitado e depois se seguiu Angola.
On Time: Vários foram os momentos e fases vividas dentro deste projecto, que é a Platinaline e, certeza que pelas suas mãos, já passaram muitos jovens. Como o caso de encher a Rua Rey Katiavala para casting. Qual foi a sensação?
Essa situação resulta de uma parceria entre a Platinaline e a Movicel. Deixou-nos bastante orgulhosos e deu para medir a nossa aceitação no mercado. Em relação ao pessoal, são muitos. Olho para atrás e apenas orgulho-me pelas pessoas que passaram pela Platinaline e hoje escrevem os seus nomes na história do Jornalismo angolano, nomeadamente: TPA, ZAP e Zimbo. Pessoas que entraram para a Platina e despontaram, como é o caso da Rosa, estava na edição e desponto. Tenho o Hélder Pedro que foi taxista, é um dos rostos da casa. Quero continuar a formar e descobrir mais talentos.
On Time: Sarchel, na verdade, é uma oportunidade que não tiveste, saíste da Universidade e dedicaste logo ao teu negócio. Até que ponto formar e descobrir talentos torna-se regozijante?
Acredito nos sonhos das pessoas. Temos de dar oportunidades, aceitar as suas fraquezas e fortalezas. Essas pessoas despontaram e cresceram é porque alguém lhe abriu a porta. Saber que a nossa história está a ser escrita da nossa forma.
On Time: Mas a vida não é feita apenas de bons momentos…
Verdade, mas nunca pensei em desistir. Tive momentos tristes, em que dizia para mim mesmo: isso não está correcto, as coisas não podem ir por este caminho. Inclusivamente na fase inicial do projecto onde comecei com algumas pessoas, colegas essencialmente, ninguém definia a sua posição dentro do projecto. É aquela discussão onde a consequência é reiniciar o processo. Exemplos como Steve Jobs que criou a Apple, saiu e regressou para assumir o comando é a melhor coisa que pode ser feita porque esse acto apenas prova que a pessoa é a alma do negócio.
On Time: Retirando os 250 dólares investidos na fase inicial, hoje, em quanto está avaliada a Platinaline?
(risos)…. Hoje, já podemos chegar, provavelmente, a meio milhão de dólares. Refiro-me a equipamentos e recursos humanos. Associado a isso à marca, facturação, número de seguidores, chegamos a dois milhões de dólares.
On Time: Largarias a Platinaline hoje?
Há um cenário de um brasileiro que criou o projecto “geração de valores”, diz que chega uma fase onde tens de largar a empresa que você criou e dedicar-se a outros negócios. Hoje, aceitaria, mas teria de continuar na sociedade da empresa. Há momentos certos de largar determinados negócios. Porque eles têm fases, num dado momento estão no auge e outro já çnão estão. É importante sermos inteligentes e saber quando largar.
On Time: Não podemos agradar a gregos e a troianos. O que lhe diz esta frase?
Significa exactamente aquilo que é o nosso trabalho no dia-a-dia. A Notícia boa é fantástica para quem beneficia, a má é fantástica para os leitores e seguidores, porque gostam de uma boa fofoca, mas extremamente rui para às figuras públicas. Principalmente cá em Angola, onde as pessoas não recebem bem uma crítica ou chamada de atenção. As pessoa que não conhecem os acordos de bastidores, quais as contrapartidas negociadas, reclamam de que uns têm mais protagonismo do que os outros.
On Time: Em que fase pessoal e profissional se encontra?
Na fase de crescimento, para ambas. Sou casado e ambos estamos focados em afirmar os nossos lados profissionais e ultrapassada essa fase, pretendemos aumentar a família. O empresarial, agora temos apenas de rentabilizar ao máximo e fazer dinheiro. Fizemos muito bem o nosso trabalho, alcançamos metas através deste mesmo esforço e dedicação, fomos merecedores de prémios, e agora temos uma nomeação internacional.
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