UNITA tem medo de fazer política - Altino Matos

Luanda - A UNITA, ao insistir na continuidade de Isaías Samakuva para mais dois anos, perdeu uma boa oportunidade para reconfigurar a sua estratégia operacional e ganhar fôlego para dar luta às acções do Executivo, numa altura em que o quadro exige, acima de tudo, novas práticas e novos rostos.
Fonte: JA
Samakuva, neste aspecto, já não oferece nada como presidente, com o agravante de colocar-se em choque com as suas próprias ideias de mudança e a entrada de outros “players” na cena nacional.

Os cérebros do partido deviam se preocupar com a mensagem que enviaram aos angolanos, a qual belisca de forma grave a imagem da UNITA, fazendo transparecer que no seu seio a democracia ainda é encarada como coisa para a casa alheia, onde deve centrar -se as atenções e fazer -se toda a pressão para distrair os menos atentos sobre os acontecimentos no país, escondendo com isso as suas próprias fraquezas.

A ideia de que a UNITA ainda tem dois anos para preparar a sua estratégia de conquista do poder é errada e inconcebível, porquanto um partido da sua dimensão no contexto nacional não deve comer erros de cálculo político, como o que acaba de cometer. Pois aposta na continuidade de Samakuva é entendida como a ausência de capacidade política, fruto de fracos mecanismos de leitura dos tempos em que vivemos.

Por mais que se venha a esforçar, a UNITA vai passar por dificuldades para se mostrar credível perante os angolanos, por culpa de uma opção irreflectida, que mais não foi para sossegar temporariamente o actual presidente, talvez por falta de coragem do mesmo para assumir outras responsabilidades, obviamente distante do cargo de líder dos “maninhos”.

Isaías Samakuva cumpriu o seu papel à frente da UNITA, e conseguiu dar conta de desafios fundamentais quer para a vida do partido, quer para a vida dos angolanos. Disso não podemos esquecer, o contrário é aceitar um papel desconexo ao de um angolano patriota e justo aos momentos de grande tensão por que o país passou nos últimos anos. Samakuva conseguiu demover o partido do caminho do choque e controlar as vozes que preferiam partir para combate político descomunal, em que uma vez sujeitos, afectaria a paz e o clima de estabilidade. Os angolanos teriam motivos para deixar de sorrir.

Samakuva, aqui, verdade seja dita, foi um homem de honras. Porém, quanto à sua substituição no partido, Samakuva falha, por sua culpa ou não, é nele que caem as insatisfações de todos aqueles que acompanham a política nacional dos novos tempos.

O presidente da UNITA devia rejeitar a oferta de continuidade, pois em nada lhe engrandece, muito pelo contrário, retira-lhe o mérito que acima ficou exposto. A UNITA acusa uma falta grave de inteligência funcional, que afecta sobremaneira a sua inteligência aplicada. Nunca um partido deve achar que a sua vida interna em nada tem a ver com o mundo lá fora, por uma razão muito simples: os militantes não garantem de forma alguma o progresso político, entendido como vitória nas urnas e credibilidade para condicionar cenários ou influenciar rumos ao povo e ao país. Espero que isso baste, para os ideólogos da UNITA perceberem a tão grave falha que cometeram em criar um cenário para facilitar a continuidade de Isaías Samakuva.

Perante esse quadro, estamos em condições de afirmar que a UNITA tem medo de fazer política. É preciso, pois, começar a acompanhar as dinâmicas dentro e fora do partido. Nesse sentido, e perante as metas que a própria UNITA lançou para o cenário nacional, os seus ideólogos devem desenhar um quadro político com o ainda presidente recolhido, por forma a dar-se maior visibilidade a figuras políticas elegíveis, como Estevão Cachiungo, Massanga Savimbi, Adalberto da Costa Júnior, Raul Danda. Podem entrar em cena outros nomes, sejam rostos conhecidos ou não dos angolanos. É importante para a UNITA desfazer-se de complexos, sejam de ordem racial, regional ou tribal, se haver alguma verdade naquilo que anda na boca do povo. Os partidos, por mais que tentem ignorar exigências de pessoas não militantes, nunca hão de conseguir delinear as suas linhas de orientação sem levar em conta os fundamentos por elas apresentados. Uma observação oportuna: O grande partido é aquele que acolhe as boas ideias, sem se sentir inferiorizado, claro!

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